domingo, novembro 23, 2008

A Catraia Nossa Senhora da Agonia em filmagens no rio Lima












Decorreram no Domingo dia 16 no estuário do rio Lima as filmagens com a embarcação tradicional Nossa Sr.ª da Agonia. Um domingo estupendo para a pratica de navegação, com bom vento e um sol magnifico.

As filmagens foram efectuadas por elementos da Associação Ao Norte, http://www.ao-norte.com/. com a colaboração do Clube de Vela de Viana do Castelo e da Associação Barcos do Norte e farão parte integrante do documentário sobre as embarcações tradicionais do rio Lima, filmagens que já levam alguns anos de investigação, podendo ser visto aqui a sinopse do trabalho em curso http://www.ao-norte.com/docs_em_prod_agua_arriba.htm

A embarcação atracada no pontão flutuante exterior da Marina de Viana do Castelo durante a tomada de algumas cenas relativas ao seu aparelhamento provocou a curiosidade de numerosas pessoas que a pé faziam a sua caminhada pela beira-rio, e que por ali ficaram a observar.

Durante cerca de três horas quem se acercou da beira-rio pode observar a catraia a navegar em toda a sua beleza, pois esta embarcação tem um porte e uma traça magnífica a navegar.
Pena que seja a única com estas características em Portugal a navegar ainda.
Sobre a Catraia Nossa Sra Da Agonia algumas notas de interesse:
CATRAIA PEQUENA OU BARCO DA FANECA DE VILA CHÃ

Em 2000 em Viana do Castelo, o Clube de Vela de Viana, inicia o projecto de salvaguarda e recuperação de uma embarcação original.
Embarcação filiada no modelo Poveiro, esta é uma Catraia Pequena ou Barco, com 5.5 mts, baptizada de “Nossa Sr.ª D`Agonia ” que arma 3 pares de remos e vela. Sendo esta uma embarcação com algumas características que a distinguem dos outros barcos, é uma embarcação originária de Vila Chã, freguesia a sul de Vila do Conde e que se dedicava à pesca da faneca, sendo por isso assim referenciada: Barco da faneca de Vila Chã, ou Fanequeira.

Esta embarcação é um barco original, construído cerca de 1977, nos seus últimos anos de vida na faina pescava na praia da Memória freguesia de Lavra, conselho de Matosinhos. Quando foi identificada por João Baptista em 1998 estava recolhida num armazém de praia, e já não pescava há vários anos por ter sido substituída por uma embarcação a motor de maior porte, (voadora). Desde essa data que nasceu a ideia da sua recuperação, sendo todo o projecto de recuperação e colocação na água a navegar da responsabilidade de João Baptista.

Depois de vários contactos a diversas entidades na cidade de Viana do Castelo durante dois anos só o Clube de Vela de Viana se mostrou disponível a acolher o projecto. Assim a sua recuperação foi possível, com o apoio da Câmara Municipal. Foi adquirida para integrar a Escola de Navegação tradicional do CVVC.

No mesmo ano 2000 realizou-se em Viana do Castelo o 1ª Encontro de Embarcações do rio Lima.

É hoje uma referência a nível nacional e internacional nos Encontros de Embarcações Tradicionais, nomeadamente na Espanha, Galiza, Málaga Cadaqués e França

Das particularidades interessantes desta embarcação destacamos o facto de em 1977 ainda se registarem em Portugal embarcações para a pesca local profissional à vela e remos, como consta no seu registo na capitania de Vila do Conde, que diz o seguinte:

A embarcação de pesca local denominada “SÔNIA MARIA” VC-1449-L foi registada nesta Repartição Marítima em 15 de Abril de 1977, á vela e remos.

Tipo de embarcação: Boca Aberta

Material do casco: Madeira,

Proa: Lançada, Popa: lançada.[1]

Sistema de propulsão: a Remos e vela

Classificação da embarcação: Pesca local com aparelhos de anzol.

As suas dimensões actuais são as seguintes:

Comprimento: 5.50mts,
Boca: 1.80mts,
Pontal: 0.60mts.

O Clube de Vela de Viana junta-se assim ao reduzido grupo de instituições no Norte de Portugal que têm embarcações tradicionais operacionais.

O retomar da participação da embarcação tradicional Nossa Sr.ª da Agonia em encontros de embarcações tradicionais resulta da colaboração entre a Associação Barcos do Norte e o Clube de Vela de Viana do Castelo
Na revista editada pela Federação Galaga pela Cultura Maritima e Fluvial,FGCMF no ano 2001 aquando do V Encontro de embarcações tradicionais da Galiza, sob o titulo Mares da saudade, foi publicado um pequeno texto sobre esta embarcação que pode ser consultado aqui:
http://www.culturamaritima.org/files/Revista-Poio-2001.pdf


[1] Construída a partir da ossada, também chamado de barco de duas proas, o qual a partir da quilha, da roda de proa, do cadaste e o cavername, tem uma forma muito esbelta uma ligeireza e elegância na água, fruto da sua proa muito lançada a terminar no capelo, e do cadaste de ré mais aprumado com popa a terminar fechada em bico. O pontal de proa maior, a boca mais afiada pelo seu lançamento e o seu bojo redondo com as cérceas de entrada e saída de água muito pronunciadas permitem que esta embarcação seja muito “maneira ou boieira” a navegar tanto a remos como á vela. Arma de dois a três pares de remos com cerca de 13 palmos (3metros), mastro e vela latina de pendão em pano-cru, geralmente encascado.

João Baptista
Fotos de Ana Baptista 2008

8 comentários:

Anónimo disse...

O amigo João,
É cada vez mais uma revelação.

Optimo este trabalho de contínua
divulgação deste nosso património
marítimo, o qual, apesar de tão depauperado, continua a sobreviver,
e quiçá, até a se robustecer,
graças à carolice de uns tantos (poucos...) como os da Associação Barcos do Norte, sem esquecer o
precioso lenitivo dos valorosos amigos e amigas da Galiza, que esses sim, são muitos e bons.
-No que respeita à donairosa catraia
fanequeira Srª d'Agonia, pena tenho
que a minha Briosa, também ela nascida em Vila do Conde, neste
momento esteja ao cuidado de uns
pobres "sapateiros", que não só não são capazes de a preservar, com ainda a dulteraram. E de que maneira...
Se assim
não fosse, o amigo João não se
poderia lamentar com pena de sua catraia ser «a única com estas características, ainda a navegar em Portugal»...
Portanto, parabéns e continuem
mantendo o rumo certo.

Albmarinheiro

barcoantigo disse...

Caro amigo, quem sabe para avivar a memória a uns quantos ainda publico umas fotas da dita embarcação quando estava no estaleiro da Azurara abandonada, do tempo que a tinha apalavrada para a adquirir, agora chamar-lhe Catraia, quanto muito bote, que era mais ou nenos isso, o bote do banheiro segundo as informaçõs colhidas faz anos

fangueiro.antonio disse...

Boas.

Belo artigo João, e a história da embarcação é sempre da maior importância estar bem acessível, como agora. E queixava-me eu há meses atrás que não conseguia descobrir nada sobre esta verdinha e enigmática catraia.
Aos senhores comentadores, venham então essas fotos da "Briosa" e que se discuta mais sobre ela, pois é neste momento um dos barcos da minha terra sobre o qual pouco ou nada conheço a não ser duas pequenas fotos.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

Anónimo disse...

Pois é.
Na verdade "vamos no bote", já que
bote deriva do inglês boat, que por si significa qualquer embarcação.
Segundo o Dicionário Ilustrado de
Marinha, da autoria do consagrado
Com. Antonio Marques Esparteiro,
"ilustre oficial, notável historiador e prolixo escritor",
tal como diz na 2ª edição, revista e actualizada em 2001, pelo Com.
J. Martins e Silva, temos:
"BOTE-Embarcação de formas cheias, semelhante ao Escaler, mas de menor comprimento e proporcionalmente mais largo", etc.
A ilustrar, duas figuras onde se
destaca o painel de popa, tal como
o escaler...
Esperando ter correspondido parcialmente à solicitação de A. Fangueiro, para uma pequena e útil discussão académica,
Cumprimentos,

Albino Gomes

joao madail veiga disse...

Tenho uma estória deliciosamente divertida, real,que se passou aquando da minha primeira entrada no Lima, a partir do Mar, que já contei no Ventosga.
Pelo VHF perguntei à Marina onde era e como lá chegava.
E eles perguntaram-me se estava a ver a ponte.
Claro que estava, (a pontev Eiffel estava mesmo à minha frente)
--Então venha que quando cá chegar nos abrimos a ponte para o sr entrar...
(!!!!!!!)

barcoantigo disse...

Caro João Veiga, não lembra ao diabo termos uma marina com uma espécie de portagem, ou ponte ou o raio do nome que lhe chamem, fiquei abismado quando soube que iam colocar ali aquele mostrengo, mas enfim, ainda por cima só dá problemas, pois não funciona a 100% porque foi a primeira a ser montada com aqueles automatismos todos. Só por cá, que somos ou fomos um pais de marinheiros e agora somos de doutores e engenheiros é que alguém se lembra de colocar pontes na entrada de marinas...Depois lamentam-se de ver os barcos passarem rumo à Galiza ou rumo a sul a fugirem deste mostrengo...
Abraço, quando aportar a estes mares apite para bebermos um copo deste "berde" carrascão.

tb disse...

Abeleza da paisagem realçada com a do rio e as oalavras de quem sabe.
Gostei muito de ler e de saber.
Beijinhos

J.pião disse...

Pois,nunca me lembraria de ver a dita catraia ,a ser filmada ém Viana ,por tudo muito obrigado pelas fotos e escritos sobre as catraias!Más qual a causa de Vila do Conde ,não se lembrar que Caxinas , viveu duas centenas de anos com as ditas catraias , o que se fês até hoje para perservar o nosso património? Nada!Assim mesmo não se fáz nada e ainda bém que agora, um pescador do mar tém vóz através deste pequeno portátil e assim vamos alertando as pessoas que tutelam estas causas que a meu ver são nóbres ,bém hajam a todos que nos proporcionam bons artigos como este !.Um abraço J.Pontes