sexta-feira, maio 14, 2010
sexta-feira, maio 07, 2010
Água arriba

ÁGUA-ARRIBA, HISTÓRIAS DE BARCOS E HOMENS
Sinopse:
Sinopse:
Água-Arriba, histórias de barcos e homens mostra, a partir de registos actuais, de fotografias, de filmes antigos e do depoimento de carpinteiros navais, investigadores e especialistas em património marítimo, pescadores, antigos barqueiros de passagem e de água-arriba que trabalharam no rio, a importância que as embarcações tradicionais do rio Lima tiveram ao longo dos tempos.
Ficha técnica
REALIZAÇÃO - Carlos Eduardo Viana
PRODUÇÃO - AO NORTE - Associação de Produção e Animação Audiovisual
PRODUÇÃO EXECUTIVA - Rui Ramos
DIRECÇÃO FINANCEIRA - António Passos
CÂMARA - Ricardo Geraldes com a colaboração de Carlos Eduardo Viana, Carlos Isaac, Carlos Morais, Daniel Novo, Ricardo Garrido, Vítor Martins
SOM DIRECTO - Alexandre Martins com a colaboração de Fátima Chavarria
MÚSICA ORIGINAL - António Rafael
MONTAGEM - António Soares
GRAFISMO - Miguel Filgueiras
DESENHO DA EMBARCAÇÃO - Carlos Vieira
ANIMAÇÃO 3D - João Vieira e Edgar Barbosa
TRATAMENTO DAS FOTOGRAFIAS - Ricardo Leal
PÓS-PRODUÇÃO ÁUDIO - José Gonçalves
CORRECÇÃO DE COR - Carlos Filipe Sousa
TEXTO - Ivone Baptista
LOCUÇÃO - Carlos Duarte
DURAÇÃO - 75’
FORMATO NATIVO DVcam
quarta-feira, maio 05, 2010
Memoria... Bueu ano 2000




Quando os lugares, os sítios, ou os amigo partem,
Restam as memórias
Os instantâneos captados pela objectiva a testemunhar o passado.
É a partir desse passado que a história se escreve, se relembra se reescreve.
É pela história que um povo vive.
Todos os barcos têm histórias para contar…
Fotografias de João Baptista
quinta-feira, abril 29, 2010
Canote de Fonte Boa




Bota abaixo no sítio da passagem na Barca do Lago ,rio Cávado em Esposende, do Barco de fundo de prato de Fonte Boa, rebaptizado de Canote.
Estas embarcações também conhecidas por Canotes, eram usadas pelas comunidades de Fonte Boa e Fão para a apanha do sargaço, e do pilado como auxiliares da catraia piladeira.
Também se dedicavam à pesca da faneca, safio, robalo e todos os peixes que abundavam entre os penedos que caracterizam a costa atlântica compreendida ente a Foz do rio Cavado e a povoação de Apúlia a sul.
Fotografias de João Baptista em 18 Abril 2010
Fotografias de João Baptista em 18 Abril 2010
terça-feira, março 23, 2010
O ultimo resistente da beira do rio...
...Um barco é como um filho saído do estaleiro que o concebe, fruto do saber arte e engenho do carpinteiro naval...
Falamos de barcos, falamos de património, falamos de cultura maritima, ou melhor falamos de identidade, falamos de paisagem ribeirinha maritima ou fluvial.
Actualmente o património e a paisagem são dois elementos importantes e indissociáveis das embarcações.
Oceanos, rios e lagos tornaram-se na Pré-história caminhos de água, numa rede operada pelas embarcações, distribuidora de produtos, pessoas e bens, que permitiu fundar a velha Europa, modelo civilizacional que perdurou até hoje.
Com as suas diferentes tipologias, as embarcações pertencem a uma paisagem exclusiva, e são o resultado das produções de uma comunidade humana que lhes deu expressão e representação.
Pertencem à Arquitectura dos lugares ribeirinhos, Marítima ou Fluvial, que é identitária e única.
As embarcações foram o motor da civilização que conhecemos e a que pertencemos. Este é o legado dos nossos barcos.
Para que existam os barcos tem que existir carpinteiros navais. Para existir carpinteiros navais tem que existir estaleiros
Em Bueu existem barcos e existem carpinteiros navais, existe o estaleiro do Purro na banda do rio frente à praia. Muitos esperam a sua morte, vencido pela exaustão dos dias o abandono e o descrédito dos homens.
A negação das memórias vivas.
É tão fácil apagar a memória dos lugares.
Difícil é recuperar
Reconstruir
Dar vida
Continuar a escrita a traços largos da história dos homens e dos seus barcos.
O estaleiro do Purro
Lá na banda do rio é o ultimo resistente.
A história é feita de resistentes. A história é feita de homens e mulheres que acreditam
Falamos de barcos, dos barcos.
Falamos de embarcações de trabalho, construídas em madeira, tornadas obsoletas pelo avanço tecnológico, e pelo esforço de pesca. Falamos de embarcações construídas segundo técnicas apuradas de carpintaria de ribeira aprendida de geração em geração, um saber feito de saber saber, saber fazer. São estas que urge salvar e proteger com a lei, se a lei não serve devemos de contribuir para que se altere, para que sirva os barcos tradicionais e não se sirva dos barcos tradicionais.
Os barcos não sobrevivem sem os seus lugares de nascença.
São como um povo sem terra.
Sem pátria.
Falemos então de identidade.
Temos hoje consciência de que até à geração dos nossos avós (50 anos atrás) as embarcações que hoje dizemos “tradicionais”, eram simplesmente os barcos de trabalho dos homens de então.
Trabalho de pesca, de transporte, de guerra, de pirata, de corsário, de vigilância, de salvamento, de carreira regular entre margens ou carreira entre países ribeirinhos, de lazer, de desporto...
investigadores e cientistas (arqueólogos navais, arqueólogos subaquáticos, antropólogos, historiadores, engenheiros navais e arquitectos navais) estão nos últimos 20 anos, apostados em conhecer o universo destes barcos.
Porquê? – Simplesmente porque se provou, que entre todas as peças do património local, quando em presença de comunidades ribeirinhas, são os barcos que dão a diferença entre cada uma das comunidades humanas, logo são eles que identificam a comunidade.
Hoje, em que se caminha em direcção de uma única Europa e para um futuro global, encontrar as diferenças entre o um e o outro, é garantir a primeira de todas as liberdades fundamentais que a Humanidade conquistou:
o direito a ser diferente, logo a ter identidade.
Continuamos a falar de barcos da identidade dos barcos, logo dos seus locais de origem, os locais de nascença.
Barco
O conceito de barco, entendido como meio de comunicação e de transporte, não é completo se não for entendido também como o meio de pesca e de sustento.
A verdade é que a utilização mais antiga para o barco é a sua capacidade de trabalho e não a de recreio. Assim se a embarcação não “trabalha” acaba também por entrar em declínio e desaparecer, por mais que se contrarie a tendência.
Sobreviveram até aos nossos dias algumas embarcações de pesca fluvial e local, por serem embarcações pequenas e de fácil manutenção. Objectos de interesse cultural, só algumas (poucas) foram salvas, em situação extrema, por Associações culturais e Clubes Náuticos que agora se desdobram a tentar encontrar maneira de as colocar na água novamente… mas já não “trabalham”, não transportam nem pescam.
Com isto perdem-se os gestos, as palavras e os conceitos associados a cada arte náutica onde o barco é tão só a peça mais visível.
Com o estaleiro a situação é a mesma. Perde-se o saber construir, o saber fazer, a prática. Perdem-se os mestres carpinteiros sem barcos…
Falamos então de abandono.
Abandono
Há poucos anos, os barcos, grandes ou pequenos, eram abandonados findo o seu uso, nas praias, margens de rios ou portos, nos locais onde se construíam ou reparavam.
Os estaleiros navais.
Todos os estaleiros tinham por isso a sua lixeira de carcaças de navios, a sua sucata, onde se iam reciclando ferragens e madeiras, que se retiravam sempre que tinham serventia até só restar a carcaça desmantelada, que se não servisse para melhor, sempre dava para alimentar as fogueiras de S. João ou de S. Pedro, os santos masculinos que os pescadores em Portugal mais festejam.
Afinal estas lixeiras eram o cemitério das embarcações...
Mas este abandono não traz agora a substituição com inovação tecnológica.
Traz a morte dos barcos e das comunidades ribeirinhas a eles associados.
Com o progresso e o novo ordenamento do território e das frentes ribeirinhas, a par da falência desastrosa do sector das pescas e de boleia neste, do da construção e reparação naval, os velhos lugares destes cemitérios, considerados, sujos e perigosos, deram lugar à especulação imobiliária e a empreendimentos habitacionais ou turísticos, ou ainda à “renaturalização” da margem, agora semeada de relva.
A par dos barcos perdem-se a memória desses lugares ribeirinhos, abandonados em nome do cosmopolitismo.
Ainda falamos de embarcações tradicionais…
Os investigadores usam várias fontes de informação para os seus estudos:
Entrevistam pessoas, consultam os Arquivos históricos, comparam fotografias antigas, interpretam a iconografia (pintura, desenhos, modelos à escala…), analisam a bibliografia e estudam os ex-votos religiosos.
Mas a melhor informação continua a ser a do próprio barco original.
O mesmo se passa com o estaleiro. O melhor estaleiro, aquele que nos ensina, aquele que atravessa a espessura do tempo é o estaleiro original.
A par do barco são o símbolo individual de cada comunidade ribeirinha.
Resultam do apurar de milénios de conhecimentos artesanais, saberes do Saber-saber, do Saber-fazer e do Saber-ser: modos e usos do dia-a-dia de outrora, saberes náuticos e ribeirinhos.
Por isso o barco ou o estaleiro devem ser entendidos individualmente, pois cada um é único no seu lugar.
Verdadeiros contentores de informação histórica,
São já poucos, é tempo de falar de extinção.
Extinção
O cosmopolitismo actual, com a sua voraz modernidade tecnológica, condenou as embarcações tradicionais, movidas à vela, a remo ou à vara, ao absolutismo técnico e assim ao seu desuso.
Com o desuso continuado virá a extinção.
Poucas pessoas, individualmente ou institucionalmente, perceberam até algum tempo atrás o drama desta extinção.
Não é a apenas o barco que se perde. É tudo o que está com ele, dentro dele, antes e depois dele.
Num barco, as diferenças são muitas entre estar como tripulante ou como passageiro.
Ao primeiro exige-se conhecimento técnico e experiência pessoal, ao segundo apenas a vontade de lá estar.
E é aqui que reside o maior problema para a extinção.
Quando um barco pára, poucos se dão conta, mas o tripulante, esse, sofre as consequências da perda do seu barco.
Aqui a mudança não dá lugar a novas formas de continuidade.
Quando um barco “tradicional” pára não é para ser substituído, é para morrer. Por isso o tripulante também pára. Quase sempre também definitivamente.
Afinal, perdemos com este parar os últimos 2500 anos de informação histórica, tecnológica, empírica e cultural.
Urge falar de inventários.
Universidades, Associações e Investigadores apostados em conhecer o universo destes barcos criaram normas para o seu estudo: levantamento, tipologia, inventário.
Buscam o legado material da cultura dos barcos, marítima ou fluvial, piscatória ou agro-piscatória.
Barcos de rio, de fundo chato e barcos de mar, de quilha e cadaste. Barcos simétricos, de proa e popa levantados em rodas, ou barcos cortados, de proa e popa em painel, como as masseiras de amassar o pão de milho. Barcos de casco forrado a tábuas a topo ou a tábuas trincadas umas sobre as outras. Barcos só à vara ou só a remo nos rios. Barcos de velas bastardas ou de velas latinas, nos rio e no mar.
Barcos que no passado recente trabalharam nas fainas do pilado e do sargaço e nas safras da sardinha. Que ora mataram a fome nos acejos da Primavera, ora a vida, nos naufrágios de Inverno.
Para além das tipologias das diferenças, o que resumia um barco, era ser uma extensão da própria família. Frequentemente passava de pai para filho e sucessivamente, de geração em geração.
Madeiras novas, velas novas, peças novas, reconstrução em cima de reconstrução.
Mas sempre o mesmo nome, o mesmo modelo naval com os mesmos defeitos e qualidades.
Um barco só morria verdadeiramente quando naufragava.
Esta era a morte do barco. E só morre o que tem vida. Nas comunidades ribeirinhas, o barco e as pessoas, são entidades, com vida depois da vida.
Falamos de sobrevivência
Aquilo que nos escapa frequentemente é que os barcos não existem sem as comunidades humanas que lhes deram origem e identidade, e que essa relação é recíproca.
Esse é o elemento da sobrevivência.
Fotografias de Arquivo 2003 de João Baptista
Lançamento à água da Traineira construida no estaleiro do Purro, Bueu em 12 de Agosto de 2003
mais informação sobre o estaleiro e sobre o seu futuro aqui: http://www.culturamaritima.org/node/14280
sábado, janeiro 30, 2010
domingo, janeiro 17, 2010
Do blog GILREU este texto que reproduzo na integra:
Portugal e Galiza, do interdito ao crucial pubicado em:As Artes Entre as Letras, quinzenário cultural,e na net:http://www.pglingua.org/;
http://www.vieiros.com/;
http://cidadesurpreendente.blogspot.com/;
http://trabalhadoresdocomercio.org/
http://www.nortadas.blogspot.com/
– um texto incómodo (a Norte e Sul do Minho) de cultura, de política
1.
Para o comum dos portugueses, o galego e a Galiza representam uma particularidade étnica e uma região entre outras, em que uma gaita-de-foles, as Rias Baixas e um bom marisco fazem quase toda a distinção para com o restante do Estado espanhol.Para alguns outros compatriotas, com alguma formação escolar, trazer-lhes-á uma remota ideia de uma literatura comum (a poesia trovadoresca), de algum relacionamento actual num tal de Eixo Atlântico, entremeado de alguns clichés sociais (o aguadeiro em Lisboa, o carregador na Ribeira, o trabalhador incansável) e talvez um preconceito histórico ligado a uma Mãe galega, Teresa, que perdeu uma batalha com o filho insubordinado que assumia pela primeira vez essa condição "superior" de português fundador, o "primeiro".
2.
Uma ditadura iníqua no século XX, uma Inquisição sanguinária (ainda que o Porto apenas tivesse tido um Auto-de-Fé, contrastando com as centenas em Lisboa e, sobretudo, de Évora e Goa) e um nacionalismo centralista afirmado sempre contra a imperial Castela, poderosa e ali ao lado, ajudaram a criar e a manter alguns dos grande mitos fundadores "nacionais", todavia vigentes, apoiados num desconhecimento que se encosta mais ao comodismo intelectual das ideias feitas do que a uma ignorância, também verdadeira, etária, geográfica e socialmente alastrada.Portugal, na sua vertente histórica de Condado Portucalense, despega-se do restante da Galiza por um acto, comum à época, de afirmação senhorial em relação a um suserano de quem não poderia já tirar vantagens, antes pelo contrário, já que toda uma Reconquista para sul prometia terras a perder de vista e levas de vassalos contribuintes. Com essa independência (do Reino de Leão), que dura há quase 900 anos, em que desenvolve as suas capacidades próprias sociais, estruturais, psicológicas e linguísticas, chega ao que é hoje: senhor de uma História rica e de uma língua pluricontinental de poder crescente.Mas a questão que sobra, ignota de muitos e relegada (por medo das consequências que poderia produzir e secundarizada pela iletrada tecnocracia vigente) é saber qual é nossa matriz cultural essencial?Nascemos do nada? Temos Viriato (que viveu seguramente a maior parte da sua vida em território hoje de Espanha) e os lusitanos (povo do qual nem sequer sabemos a língua que falava) apresentados como substrato nacional, porquê?Talvez a necessidade de afirmação nacional do ex-condado e do Portugal da altura obrigasse a um "desvio" no rigor dos nossos historiadores, comum a muitos povos, para fugir a uma verdade que poderia ainda abalar a nossa frágil independência? Talvez?A "lusitanização" de que se fala com muita frequência ao norte e ao sul do Minho, foi uma etiquetagem. Os portugueses encontraram no termo "lusitano" o mito genético para construírem uma independência mais segura. Pensariam que mantendo o cordão umbilical galego estariam mais sujeitos a uma intervenção da Grande Espanha (com Castela dominadora), que tinha absorvido a Galiza a norte do Minho, pois poderia induzir-se pretensão anexionista futura.Creio que foi esta a astúcia que permitiu justificar um Portugal, nascido do "nada" e "inventor" de uma língua que "sem origem" (a não ser o latim, apagando quase mil anos de História), e, por isso, Castela não tinha justificação nenhuma para impedir um povo/língua/cultura tão "diferente" do resto da Península, de ser independente. Recordemos, de passagem, que é o Cisma do Ocidente (1378-1417) que impondo a adaptação das estruturas eclesiásticas às estatais da altura, provoca de facto a separação política "final" entre as duas regiões.Mas porque é que hoje, integrados numa Europa que nos garante, valha-nos isso!, a paz e a segurança internacional, não retomamos o caminho da ciência e da verdade históricas e não afirmamos sem peias que Portugal é de matriz cultural essencialmente galega?Porque não se diz claramente que o galego é a nossa língua de partida, aquela de onde brotou a nossa variante, desenvolvida, apurada e internacionalizada, chamada português?Porque se persiste em não explicar desde a instrução primária essa origem comum, insistindo-se em "escavar sinais" de vontade autonómica nos séculos anteriores?As simples manobras de aproximação transfronteiriça, como muito bem assinalou Camilo Nogueira (um dos galeguistas mais esclarecidos na actualidade e que citamos aqui várias vezes), são um processo acomodatício, válido é claro para um relacionamento económico mais forte, mas que não basta para cumprir as nossas obrigações históricas e actuais, e defender o nosso passado e os nossos interesses.
3.
Nascidos antes mas estruturados nos movimentos liberais do século XIX, os Estados-nação já culminaram a sua função destruidora da diversidade política e nacional interna (CN). O conceito de que a um Estado, de fronteiras reconhecidas, corresponde uma nação de per si, com a lógica da jacobina igualdade cidadã e uma imposição de jure de uma língua comum, "aprofundando" assim a necessidade dessa comunidade linguística, "naturalmente " aceite, isto é, imposta por uma centralização, levaram, por exemplo, na França, à quase destruição, pelo menos ao aniquilamento político, da Bretanha, da Alsácia, da Córsega, do País d'Oc, e de outras nacionalidades, mais umas que outras, sobrevivendo ainda uns restos de sentimento nacional "recuperável" na ilha mediterrânica.Em Espanha, pese os esforços de Castela, três nações conseguiram resistir até hoje, mantendo não apenas as suas línguas nacionais, mas também acesa a chama nacional e a vontade de perseguir os desígnios próprios a cada nação, a soberania à cabeça.A ideologia "nacionalista" do Estado-nação (o pior dos "nacionalismos", porque disfarçado de supranacional) projecta sobre as nações internas a acusação de pretenderem a constituição de nações etnicamente uniformes, contrapondo a ideia de povo à de território, que seria a própria de Estados como o espanhol, que teriam assim os atributos da pluralidade, da diversidade e, incluso, da mestiçagem e da democracia (CN).Na Galiza - ou não fosse tão igual a nós - existe uma situação de impasse, motivada, é certo, pela pressão terrorista de um centralismo avassalador, mas sobretudo por um movimento nacionalista preso a um esquerdismo - que é a doença infantil do galeguismo - que recusa abrir-se a outras camadas sociais ou que indistingue luta nacional e luta social, prejudicando gravemente um objectivo próprio, horizontal e acima de qualquer outro (acima, disse bem!), dando a volta, mas cedendo no fundo (e ainda com C. Nogueira) ao marxismo dogmático de Hobsbawn que qualifica os nacionalismos das nações sem Estado, como um fenómeno historicamente transitório, identificável com os interesses das burguesias, à maneira do que, em Portugal, deve ser o pensamento de um Bloco de Esquerda sobre esta questão, ou de outra "esquerda", mais larga e novo-rica que confunde o ser do mundo com a perda empobrecedora da personalidade própria (CN).
4.
Na Galiza, o eixo principal pelo qual a luta nacional tem de passar, e que "beneficiou" neste momento do ataque desenfreado do espanholismo linguístico (que acusou os nacionalismos de querer impedir o bilinguismo, quando o problema é exactamente o inverso) é o da língua.O nacionalismo, presa ainda do conceito maximalista atrás citado e, nalguns sectores, ainda de um isolacionismo (bem burguês (pequeno), aliás) hesita em tomar a peito esta questão, armando-se da coragem dos Pais Nacionais do galeguismo político (primeira metade do Século XX).Se ser nação é assumir a possibilidade de construir um Estado. mais verdade ainda é ser nação é que a língua própria seja indiscutivelmente a língua nacional" (CN). E esta, o galego só a pode cumprir cabalmente, se for aglutinadora e cimento de um povo, se se lhe der a continuidade histórica necessária, aquela que o galego enquanto tal, remetido durante muitos séculos a língua apenas oral e rural, não pôde beneficiar, mas que o galego, enquanto português, se temperou, tornando-se não apenas língua literária de larga produção mas ainda língua pluricontinental, a quinta mais falada no mundo (maternal).
Citamos o mais conhecido galeguista português, até hoje, Rodrigues Lapa:Certos indivíduos, arvorados em linguistas, ignoram ou fingem ignorar a diferença entre vários tipos de língua: a que falamos no trato quotidiano, propriamente a fala; a que empregamos na escrita; e a que é mais elaborada e usamos na literatura. As duas pontas desta cadeia são obviamente a fala e a língua literária. Não é lícito confundi-las. O processo da língua oral é simples: uma vez lançada a mensagem, o signo é esquecido; mas o enunciado literário não morre por ter servido, "está feito expressamente para renascer das suas cinzas e tornar a ser indefinidamente o que acaba de ser", assim escreveu Paulo Valéry.A recuperação literária do galego padece de um erro fundamental: a transplantação pura e simples da fala corrente para o texto dos livros. Não é assim que se forja uma literatura.
Considerar o galego como parte integrante do sistema linguístico galego-português-brasileiro, com o nome internacional de português, aproximar radicalmente (em sentido próprio) o galego escrito da norma portuguesa-brasileira, enriquecer a nossa língua comum dos milhares de vocábulos e expressões galegas, eis o caminho a percorrer: o que falta.
Bruxelas, 17 de Dezembro de 2009
Joaquim Pinto da Silva (galego do sul, português do norte)
aqui :http://gilreu.blogspot.com/
http://www.vieiros.com/;
http://cidadesurpreendente.blogspot.com/;
http://trabalhadoresdocomercio.org/
http://www.nortadas.blogspot.com/
– um texto incómodo (a Norte e Sul do Minho) de cultura, de política
1.
Para o comum dos portugueses, o galego e a Galiza representam uma particularidade étnica e uma região entre outras, em que uma gaita-de-foles, as Rias Baixas e um bom marisco fazem quase toda a distinção para com o restante do Estado espanhol.Para alguns outros compatriotas, com alguma formação escolar, trazer-lhes-á uma remota ideia de uma literatura comum (a poesia trovadoresca), de algum relacionamento actual num tal de Eixo Atlântico, entremeado de alguns clichés sociais (o aguadeiro em Lisboa, o carregador na Ribeira, o trabalhador incansável) e talvez um preconceito histórico ligado a uma Mãe galega, Teresa, que perdeu uma batalha com o filho insubordinado que assumia pela primeira vez essa condição "superior" de português fundador, o "primeiro".
2.
Uma ditadura iníqua no século XX, uma Inquisição sanguinária (ainda que o Porto apenas tivesse tido um Auto-de-Fé, contrastando com as centenas em Lisboa e, sobretudo, de Évora e Goa) e um nacionalismo centralista afirmado sempre contra a imperial Castela, poderosa e ali ao lado, ajudaram a criar e a manter alguns dos grande mitos fundadores "nacionais", todavia vigentes, apoiados num desconhecimento que se encosta mais ao comodismo intelectual das ideias feitas do que a uma ignorância, também verdadeira, etária, geográfica e socialmente alastrada.Portugal, na sua vertente histórica de Condado Portucalense, despega-se do restante da Galiza por um acto, comum à época, de afirmação senhorial em relação a um suserano de quem não poderia já tirar vantagens, antes pelo contrário, já que toda uma Reconquista para sul prometia terras a perder de vista e levas de vassalos contribuintes. Com essa independência (do Reino de Leão), que dura há quase 900 anos, em que desenvolve as suas capacidades próprias sociais, estruturais, psicológicas e linguísticas, chega ao que é hoje: senhor de uma História rica e de uma língua pluricontinental de poder crescente.Mas a questão que sobra, ignota de muitos e relegada (por medo das consequências que poderia produzir e secundarizada pela iletrada tecnocracia vigente) é saber qual é nossa matriz cultural essencial?Nascemos do nada? Temos Viriato (que viveu seguramente a maior parte da sua vida em território hoje de Espanha) e os lusitanos (povo do qual nem sequer sabemos a língua que falava) apresentados como substrato nacional, porquê?Talvez a necessidade de afirmação nacional do ex-condado e do Portugal da altura obrigasse a um "desvio" no rigor dos nossos historiadores, comum a muitos povos, para fugir a uma verdade que poderia ainda abalar a nossa frágil independência? Talvez?A "lusitanização" de que se fala com muita frequência ao norte e ao sul do Minho, foi uma etiquetagem. Os portugueses encontraram no termo "lusitano" o mito genético para construírem uma independência mais segura. Pensariam que mantendo o cordão umbilical galego estariam mais sujeitos a uma intervenção da Grande Espanha (com Castela dominadora), que tinha absorvido a Galiza a norte do Minho, pois poderia induzir-se pretensão anexionista futura.Creio que foi esta a astúcia que permitiu justificar um Portugal, nascido do "nada" e "inventor" de uma língua que "sem origem" (a não ser o latim, apagando quase mil anos de História), e, por isso, Castela não tinha justificação nenhuma para impedir um povo/língua/cultura tão "diferente" do resto da Península, de ser independente. Recordemos, de passagem, que é o Cisma do Ocidente (1378-1417) que impondo a adaptação das estruturas eclesiásticas às estatais da altura, provoca de facto a separação política "final" entre as duas regiões.Mas porque é que hoje, integrados numa Europa que nos garante, valha-nos isso!, a paz e a segurança internacional, não retomamos o caminho da ciência e da verdade históricas e não afirmamos sem peias que Portugal é de matriz cultural essencialmente galega?Porque não se diz claramente que o galego é a nossa língua de partida, aquela de onde brotou a nossa variante, desenvolvida, apurada e internacionalizada, chamada português?Porque se persiste em não explicar desde a instrução primária essa origem comum, insistindo-se em "escavar sinais" de vontade autonómica nos séculos anteriores?As simples manobras de aproximação transfronteiriça, como muito bem assinalou Camilo Nogueira (um dos galeguistas mais esclarecidos na actualidade e que citamos aqui várias vezes), são um processo acomodatício, válido é claro para um relacionamento económico mais forte, mas que não basta para cumprir as nossas obrigações históricas e actuais, e defender o nosso passado e os nossos interesses.
3.
Nascidos antes mas estruturados nos movimentos liberais do século XIX, os Estados-nação já culminaram a sua função destruidora da diversidade política e nacional interna (CN). O conceito de que a um Estado, de fronteiras reconhecidas, corresponde uma nação de per si, com a lógica da jacobina igualdade cidadã e uma imposição de jure de uma língua comum, "aprofundando" assim a necessidade dessa comunidade linguística, "naturalmente " aceite, isto é, imposta por uma centralização, levaram, por exemplo, na França, à quase destruição, pelo menos ao aniquilamento político, da Bretanha, da Alsácia, da Córsega, do País d'Oc, e de outras nacionalidades, mais umas que outras, sobrevivendo ainda uns restos de sentimento nacional "recuperável" na ilha mediterrânica.Em Espanha, pese os esforços de Castela, três nações conseguiram resistir até hoje, mantendo não apenas as suas línguas nacionais, mas também acesa a chama nacional e a vontade de perseguir os desígnios próprios a cada nação, a soberania à cabeça.A ideologia "nacionalista" do Estado-nação (o pior dos "nacionalismos", porque disfarçado de supranacional) projecta sobre as nações internas a acusação de pretenderem a constituição de nações etnicamente uniformes, contrapondo a ideia de povo à de território, que seria a própria de Estados como o espanhol, que teriam assim os atributos da pluralidade, da diversidade e, incluso, da mestiçagem e da democracia (CN).Na Galiza - ou não fosse tão igual a nós - existe uma situação de impasse, motivada, é certo, pela pressão terrorista de um centralismo avassalador, mas sobretudo por um movimento nacionalista preso a um esquerdismo - que é a doença infantil do galeguismo - que recusa abrir-se a outras camadas sociais ou que indistingue luta nacional e luta social, prejudicando gravemente um objectivo próprio, horizontal e acima de qualquer outro (acima, disse bem!), dando a volta, mas cedendo no fundo (e ainda com C. Nogueira) ao marxismo dogmático de Hobsbawn que qualifica os nacionalismos das nações sem Estado, como um fenómeno historicamente transitório, identificável com os interesses das burguesias, à maneira do que, em Portugal, deve ser o pensamento de um Bloco de Esquerda sobre esta questão, ou de outra "esquerda", mais larga e novo-rica que confunde o ser do mundo com a perda empobrecedora da personalidade própria (CN).
4.
Na Galiza, o eixo principal pelo qual a luta nacional tem de passar, e que "beneficiou" neste momento do ataque desenfreado do espanholismo linguístico (que acusou os nacionalismos de querer impedir o bilinguismo, quando o problema é exactamente o inverso) é o da língua.O nacionalismo, presa ainda do conceito maximalista atrás citado e, nalguns sectores, ainda de um isolacionismo (bem burguês (pequeno), aliás) hesita em tomar a peito esta questão, armando-se da coragem dos Pais Nacionais do galeguismo político (primeira metade do Século XX).Se ser nação é assumir a possibilidade de construir um Estado. mais verdade ainda é ser nação é que a língua própria seja indiscutivelmente a língua nacional" (CN). E esta, o galego só a pode cumprir cabalmente, se for aglutinadora e cimento de um povo, se se lhe der a continuidade histórica necessária, aquela que o galego enquanto tal, remetido durante muitos séculos a língua apenas oral e rural, não pôde beneficiar, mas que o galego, enquanto português, se temperou, tornando-se não apenas língua literária de larga produção mas ainda língua pluricontinental, a quinta mais falada no mundo (maternal).
Citamos o mais conhecido galeguista português, até hoje, Rodrigues Lapa:Certos indivíduos, arvorados em linguistas, ignoram ou fingem ignorar a diferença entre vários tipos de língua: a que falamos no trato quotidiano, propriamente a fala; a que empregamos na escrita; e a que é mais elaborada e usamos na literatura. As duas pontas desta cadeia são obviamente a fala e a língua literária. Não é lícito confundi-las. O processo da língua oral é simples: uma vez lançada a mensagem, o signo é esquecido; mas o enunciado literário não morre por ter servido, "está feito expressamente para renascer das suas cinzas e tornar a ser indefinidamente o que acaba de ser", assim escreveu Paulo Valéry.A recuperação literária do galego padece de um erro fundamental: a transplantação pura e simples da fala corrente para o texto dos livros. Não é assim que se forja uma literatura.
Considerar o galego como parte integrante do sistema linguístico galego-português-brasileiro, com o nome internacional de português, aproximar radicalmente (em sentido próprio) o galego escrito da norma portuguesa-brasileira, enriquecer a nossa língua comum dos milhares de vocábulos e expressões galegas, eis o caminho a percorrer: o que falta.
Bruxelas, 17 de Dezembro de 2009
Joaquim Pinto da Silva (galego do sul, português do norte)
aqui :http://gilreu.blogspot.com/
terça-feira, dezembro 29, 2009
no mar tambem há escritores...
Apresentação do seu romance sábado 2 de Janeiro de 2010
Ás 19.00 horas na Vinoteca A dos Piñeiros, (Avda. da Pastora, 53. CAMBADOS)
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terça-feira, novembro 24, 2009
figura em destaque...
reunião Assembleia Geral Federação Galega Cultura Maritima 20 dezembro 2003
Por vezes temos surpresas...
aqui:
http://boudevara.blogspot.com/2009/11/persoeiro-de-novembro.html
Obrigado Xaquin
domingo, novembro 22, 2009
sábado, novembro 07, 2009
Estaleiros Navais de Viana do Castelo
Parte da História de Viana do Castelo recente também se escreveu pelo surgimento dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, mais conhecido pelo nome de Estaleiros.
Uma pequena visão dos seus 65 anos de vida são agora apresentados num pequeno filme, concebido por Gonçalo Fagundes Meira, durante anos presidente do Grupo desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana, ele mesmo um dos grandes responsáveis pela edição anual dos livros dos Estaleiros e pela Revista Roda do Leme.
Com montagem de João Rego e locução de Ivone Marques, é uma agradável visita às memórias desta empresa.
a ver aqui:
segunda-feira, novembro 02, 2009
Caravela seiscentista naufragada no Rio Cávado
Hoje na edição do Jornal de Noticias a noticia:
aqui:
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Braga&Concelho=Esposende&Option=Interior&content_id=1407571
aqui:
http://jn.sapo.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Braga&Concelho=Esposende&Option=Interior&content_id=1407571
Há vários anos que a Associação barcos do Norte tem vindo a fazer trabalhos de investigação na área da arqueologia subaquática. Inserido no nosso projecto nacional de investigação destacamos o IPARMALE – Inventário do Património Arqueológico relacionado com o Meio Aquático do Litoral de Esposende, sendo a noticia hoje veiculada no Jornal de Noticias um dos sítios de naufrágio já referenciados pela Barcos do Norte no referido Inventário.
terça-feira, outubro 13, 2009
sexta-feira, setembro 25, 2009
Riba Acima vai para a água
É já amanhã pelas quatro da tarde que a réplica do barco de Riba Acima do rio Lima é lançado à água no Lugar da Passagem em Lanheses.
Esta embarcação com cerca de 13 metros de comprimento é uma replica o mais fiel possível, construída segundo as técnicas tradicionais, na antiga escola primária de Lanheses hoje sede da Junta de Freguesia.
Lanheses foi um importante local de passagem ente as duas margens do rio Lima desde tempos imemoriais, e agora esse lugar junto ao rio vai ser enriquecido com a colocação na água desta replica navegante, testemunho da memória de antigos barqueiros que do rio faziam o seu lugar de oficio.
É uma iniciativa da Junta de Freguesia de Lanheses, e conta com o apoio da Barcos do Norte
sexta-feira, julho 17, 2009
MADEIRAS DE RIO

Exposição de fotografia a inaugurar hoje pelas 21.30 horas na Junta de Freguesia de São Victor na cidade de Braga.
...As embarcações que hoje dizemos tradicionais são para a Barcos do Norte os barcos de trabalho de pequena dimensão, em madeira, de fabrico artesanal, movidos sem propulsão mecânica e que operavam junto do porto de origem.
Como embarcações tradicionais, apenas sobreviveram até aos nossos dias, algumas de transporte e pesca local, por serem pequenas e de fácil e económica manutenção, maioritariamente em mau estado ou transformadas para recreio.
As poucas que resistiram como objecto de interesse cultural, resultam da acção de Autarquias, Museus, Associações e Clubes Náuticos que agora procuram encontrar maneira de as colocar na água novamente, visto que a lei já não permite que “trabalhem”, no sentido tradicional do termo.
Se não trabalharem perdem-se os gestos, as palavras, as ideias e os conceitos associados a cada arte náutica onde o barco é tão só a peça mais visível.
Perde-se com cada embarcação uma parte significativa da nossa cultura intangível, porque imaterial.
É em busca desse legado que demanda a Barcos do Norte...
As fotos agora apresentadas a publico são o testemunho possível de muitas dessas embarcações do passado.
João Baptista 2009
Como embarcações tradicionais, apenas sobreviveram até aos nossos dias, algumas de transporte e pesca local, por serem pequenas e de fácil e económica manutenção, maioritariamente em mau estado ou transformadas para recreio.
As poucas que resistiram como objecto de interesse cultural, resultam da acção de Autarquias, Museus, Associações e Clubes Náuticos que agora procuram encontrar maneira de as colocar na água novamente, visto que a lei já não permite que “trabalhem”, no sentido tradicional do termo.
Se não trabalharem perdem-se os gestos, as palavras, as ideias e os conceitos associados a cada arte náutica onde o barco é tão só a peça mais visível.
Perde-se com cada embarcação uma parte significativa da nossa cultura intangível, porque imaterial.
É em busca desse legado que demanda a Barcos do Norte...
As fotos agora apresentadas a publico são o testemunho possível de muitas dessas embarcações do passado.
João Baptista 2009
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